Ovelhas e Pastores
Recordo haver visitado uma página web de um homem que se manifestava ateu. Um tipo muito inteligente e muito versado em assuntos de ciência, filosofia e história. Parecia ter um arsenal inesgotável de recursos de todo tipo para demonstrar quão absurda e perniciosa é a idéia de crer em um Deus. Como conclusão de todas as suas invectivas, terminava dizendo: "só necessita um pastor o que se crê ovelha". Segundo sua opinião, aí estava o resumo da religião: as limitações do nosso ser humano nos fazem inclinados a buscar um consolo e uma explicação fora de nós, ou, como dizia Feuerbach: "não é Deus que criou o homem, mas o homem que criou a Deus".
As histórias e posturas desses ateus servem de ponto de reflexão sobre o que significa ter um pastor. Aquele homem da página web publica o seu e quer que alguns estejam de acordo com ele, pois de outro modo não gastaria tempo em dizer nada. Quer guiar outros; quer ser pastor de outros.
Por outra parte, esse mesmo homem segue o que ele considera o que é uma luz, uma luz grande, uma luz definitiva. Para ele, a ciência moderna é sua grande luz. Está convencido de que as respostas estão aí, inclusive as respostas para as perguntas que não fizemos todavia. Ele pensa que todas as perguntas já foram feitas, ou que as que não foram, se poderá responder da melhor maneira seguindo essa luz da razão científica. É um ato de confiança que se parece muito com a ovelha que segue seu pastor, porque de fato se refere não às certezas que tem, mas às que supõe que terá.
Lendo coisas como à desse ateu cibernético, ou as de Feuerbach, vejo quanto acerto há na perspectiva que nos apresenta Pedro: ovelhas somos, e assim nos extraviamos. Ao fim e à cabo, uma ovelha extraviada segue sendo ovelha, só que esta vez se trata de uma ovelha atraída por algum pasto saboroso, ou uma paisagem amena, ou um córrego fresco, ou talvez pelo exemplo de outra ovelha.
A mensagem cristã, então, pode escrever-se assim: "Como ser humano, irá atrás de alguma luz, algum apetite, algum pastor. Tudo radica em que escolhas o pastor correto, que não seja um que te destrua e se aproveite de ti, mas um que te ame e defenda. Essas são as credenciais com as que se apresentou Cristo: recebe-O, pois, como teu Pastor e Senhor de tua vida".
Coloquem-se à salvo!
O mesmo Apóstolo Pedro exorta de diversos modos seus ouvintes à que se arrependam, e acrescenta um chamado final: "Coloquem-se à salvo desta geração!" Isto se parece ao que acabamos de dizer sobre escolher o pastor correto.
A expressão "esta geração" é um pouco difícil de entender, porque no grego original "genea" alude tanto ao tempo como inclusive à nação. Parece que alude principalmente ao ambiente, a atmosfera que nos envolve e induz de muitos modos a atuar de determinadas maneiras. O sentido das palavras de Pedro não são então : "apartem-se dessas pessoas", mas "sejam livres do ambiente que lhes rodeia". Exortação que todos vemos como muito saudável não só para a o século I, mas para o XXI, e os que virão.
Há que saber ser livres do ambiente, porque há muitas vozes e há muitíssimos pastores. Muitas pessoas querem nos levar atrás de suas propostas, e muitas dessas propostas conduzem à morte. São vozes dos falsos profetas, os "ladrões e bandidos" de que nos fala o Evangelho. Pedro, pois, nos chama a ter ouvidos atentos à voz do Verdadeiro e Bom Pastor, e não deixarmo-nos confundir por nada nem ninguém. Assim se cumprirá em nós as palavras de Cristo: "Vim para que tenha vida e a tenha em abundância" (João 10, 10).
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