"As obras de Suas mãos são verdade e justiça; Imutáveis os Seus preceitos; Irrevogáveis pelos séculos eternos; Instituídos com justiça e eqüidade." - Salmo 110, 7-8

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A evolução é um tema opinável para os católicos?

Hoje muitos católicos pensam que a evolução é uma questão aberta na que cada um pode ter sua própria opinião, e para justificá-lo citam certo ensinamento de Pio XII na Encíclica Humani Generis de 1950, que depois de repetidas deformações chegou à nossos dias com o sentido de que "a teoria da evolução é uma hipótese séria, digna de reflexão e investigação", ou em outras palavras, que todos podemos opinar e especular sobre a evolução dos seres vivos, deixando em pé de igualdade o evolucionismo com o Criacionismo Especial, se é que este último não foi deixado definitivamente abandonado. É isto assim? Como vamos ver, a resposta é Não, redondamente não.

Pio XII no ponto nº 36** de Humanis Generis diz:

"Por isso o Magistério da Igreja não proíbe que nas investigações e disputas entre homens doutos de ambos os campos se trate da doutrina do evolucionismo, que busca a origem do corpo humano em matéria viva preexistente (pois a fé nos obriga a reter que as almas são diretamente criadas por Deus), segundo o estágio atual das ciências humanas e da Sagrada Teologia, de modo que as razões de uma e outra opinião, isto é, dos que defendem ou impugnam tal doutrina, sejam ponderadas e julgadas com a devida gravidade, moderação e comedimento, contanto que todos estejam dispostos a obedecer ao ditame da Igreja, a quem Cristo conferiu o encargo de interpretar autenticamente as Sagradas Escrituras, e de defender os Dogmas da Fé. Porém, certas pessoas, ultrapassam com temerária audácia essa liberdade de discussão, agindo como se a própria origem do corpo humano à partir de matéria viva preexistente fosse já certa e absolutamente demonstrada pelos indícios até agora achados e pelos raciocínios neles baseados, e como se nada houvesse nas fontes da Revelação que exigisse a máxima moderação e cautela nessa matéria."

Não há nenhum só indicativo de que nós possamos opinar, especular ou aderirmos a especulações do evolucionismo; e ainda menos de rechaçar a doutrina tradicional da Criação de Adão à partir da poeira terrestre, e depois a de Eva, diretamente por Deus no preciso sexto dia. Ademais, há que observar que a permissão de investigação e disputa do evolucionismo não é universal, mas circunscrito só às pessoas qualificadas nos campos científico e teológico.

Em 1950 ainda não se havia descoberto o DNA, pelo que o significado de "evolução" era muito impreciso, e por isso parece lógico que o Papa buscara uma informação mais precisa desse termo, por isso concedeu permissão para que os especialistas - tanto em ciências naturais como teológicas - realizassem investigações nesse campo.
Por exemplo, antes de 1953 todavia estava bastante extendida entre os cientistas a crença de que a matéria inerte tinha misteriosas propriedades inerentes, como para permitir o desenvolvimento da vida desde dela mesma (a abiogênesis). No entanto, em 1953 anunciou-se uma descoberta crucial favorável ao Criacionismo, o descobrimento por Crick e Watson do código genético, o qual conduziria rapidamente à clarificação do que verdadeiramente sucede na bioquímica à nível das células e das moléculas. Superstições e falsas crenças, tal como a abiogênesis, foram desaparecendo do campo da ciência. Em 1975, o máximo especialista em genética humana, o Doutor Jérôme Lejêune¹, demonstrou com toda nitidez que nenhuma acumulação de micro-variações podem acumular-se para dar origem à uma alegada macroevolução. E já nas recentes décadas, as investigações genéticas conduzem cada vez com mais claridade a conclusão que o Criador havia desenhado as formas de vida de tal maneira, que só sejam possíveis as micro-variações dentro de uma mesma espécie. A compreensão deste ponto tem permitido definir com toda precisão o termo "evolução". "A evolução requer necessariamente a ganância natural de uma maior informação genética que a possuída pelos antepassados."²

O ensinamento da Criação Especial de Adão e Eva ademais de aparecer explicitamente refletida no Gênesis, tem sido um ensinamento comum desde os Padres, Doutores, Papas e Concílios. Enquanto que os dissidentes dela, como Teilhard de Chardin, que por sua própria conta intentaram reacomodar aspectos como a doutrina verdadeira do Pecado Original, foram duramente recriminados pela Igreja.

Em nossos dias parece uma ousadia sugerir que a ciência natural tem importantes limitações. Na Ciência escolástica não havia a ruptura atual Ciência natural - Teologia (e a conseqüente defenestração desta última), para os Doutores medievais, por exemplo, era óbvio que a investigação científica exclusivamente natural não podia lançar luz sobre como Deus formou o corpo de Adão desde o pó da terra, pois isso estava além da esfera das ciências naturais. Estes Doutores distinguiam entre a "ordem da Criação" quando Deus criou as distintas classes de criaturas por Sua Palavra, e a "ordem da Providência" que começou unicamente após a Criação de Adão e Eva.
A ciência natural moderna havia abandonado completamente essa sábia distinção entre a ordem da Criação e a ordem natural. No entanto, a ciência do século XXI tem redescoberto a sensatez desta distinção. Por exemplo, no campo da genética, em suas investigações os cientistas naturais têm aprendido muito sobre a transmissão e variação da informação genética, mas nenhum cientista jamais encontrou a aparição espontânea de um novo programa genético, tal como o que seria necessário para produzir um novo órgão, como um olho ou um ouvido, em um organismo carente do dito órgão. Pelo contrário, a genética do século XXI tem encontrado refutações à hipótese da evolução darwinista, por exemplo, se tem descoberto que a informação genética , longe de incrementar sua funcionalidade, se degrada e decai com o tempo com uma rapidez que é incompatível com os tempos da hipótese evolucionista. Por exemplo, o Dr. Kondrashov³ demonstra que é impossível para um hipotético ancestral do chimpanzé e homem adquirir as "mutações benéficas" necessárias sem adquirir por mudança um número muito superior de mutações letais que lhe levariam à extinção total.

Muitos católicos se opõem diretamente hoje ao Criacionismo Especial, crendo que a doutrina da Igreja no tema das origens encoraja a ter opiniões particulares, e ademais sustentam irresponsavelmente que os que propõem esta visão são "cristãos fundamentalistas". Falso. Ao menos o primeiro aspecto, enquanto que o segundo convém aclarar, os protestantes renegados e liberais começaram a chamar "fundamentalistas" à aqueles cristãos que defendiam os princípios "fundamentais" do Cristianismo que eles haviam deixado de crer (1. A divindade de Cristo, 2. Seu Virginal Nascimento, 3. Sua Ressurreição, 4. A Inspiração da Escritura, 5. Sua Segunda Vinda). Segundo isso, na Igreja Católica quem não é assim "fundamentalista" está mergulhado na heresia, logo é outra coisa, não católico. É certo, no entanto, que hoje tem-se distorcido o significado do termo "fundamentalista" até fazê-lo sinônimo de "terrorista" ou algo assim. Por isso, em todo caso, havia que substituir esse termo pelo de "intransigente", a santa intransigência do católico segundo São Josemaría; intransigente sim, irracional não; dois mais dois são quatro e daqui não nos move ninguém.

Como conclusões, podem citar-se os seguintes quatro pontos:
1) A evolução - corretamente definida - não pode ser objeto de opinião ou especulação por parte dos católicos.
2) Quando em 1950 o Papa Pio XII escreveu que a Igreja Católica não proíbe a investigação e a discussão (por parte dos especialistas) da evolução do corpo humano, não era então possível definir com precisão o termo "evolução".
3) É uma conclusão incorreta, mantida erroneamente muitos católicos, pensar que Pio XII permitiu abertamente as especulações sobre a evolução darwinista, colocando-as à par (ou inclusive acima) do Criacionismo Especial da doutrina tradicional da Igreja.
4) A permissão da Igreja Católica para investigar e discutir a evolução do corpo humano de Adão (por parte dos especialistas) ainda segue vigente hoje, embora atualmente muitos qualificados cientistas católicos pensam  que esta investigação já foi completada; de qualquer maneira se está à espera de um próximo encerramento por parte do Magistério.

NOTAS:

**Modificado à partir do original (na Encíclica em espanhol, o parágrafo é 29, e em português é 36).
2. Gerard J. Keane em "Special Creation Rediscovered".
3. Alexey Kondrashov, Journal of Theoretical Biology, 1995.

Fonte: Creacionismo Especial (Tradução livre)

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