"As obras de Suas mãos são verdade e justiça; Imutáveis os Seus preceitos; Irrevogáveis pelos séculos eternos; Instituídos com justiça e eqüidade." - Salmo 110, 7-8

sábado, 30 de julho de 2011

Filo-lefebvrianos V

José María Iraburu
O diagnóstico exato de uma enfermidade é chave para alcançar sua cura. Mons. Lefebvre via Roma afetada de "AIDS espiritual" (Tissier 597). Por sua parte, como já disse no primeiro artigo desta série (126), o lefebvrismo é uma enfermidade espiritual que tem duas causas principais: 1ª o discernimento condenatório da Igreja presente e de seus Papas; e 2ª, o convencimento de que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X é o meio providencial necessário para salvar a Igreja, mantendo-a na ortodoxia doutrinal e litúrgica. Vou assegurar agora este diagnóstico recordando em uma síntese o desenvolvimento histórico do lefebvrismo.

1970. Mons. Lefebvre funda a Fraternidade Sacerdotal São Pio X "antes de tudo para fazer sacerdotes e, consequentemente, abrir seminários". Assim o declara em uma importante conferência de princípios de 1987, na que faz um resumo histórico da FSSPX. Volto em seguida sobre ela. Efetivamente, pouco depois do Concílio Vaticano II, e inclusive durante sua celebração, a vida da Igreja se viu perturbada por turbulências muito fortes. Pareciam que andavam soltos todos os diabos, se produziam inumeráveis "erros e horrores", que já descrevi (129), sendo talvez o mais espetacular arruinamento brusco dos Seminários. Foram Seminários diocesanos que passaram de 1.000 à 10 seminaristas, ou à zero.

Não tem, pois, nada de estranho que Mons. Lefebvre fundara em 1971 a FSSPX em Friburgo, Suíça, com uma aprovação por cinco anos do bispo local,  Mons. Charrière, e que imediatamente estabelecera seu Seminário, que pronto passou à Écône. Ali se formou um Seminário excelente, perfeitamente ajustado à tradição e às normas da Igreja. Se mal me recordo, em um dado momento havia mais seminaristas franceses na FSSPX que em todos os Seminários franceses juntos. Uma graça de Deus muito grande. Mas...Écône se mantém fechada à "Missa nova" e à "Igreja conciliar". As tensões com a Santa Sé vão aumentando.

1974. Mons. Lefebvre faz finalmente em Écône uma declaração solene de rechaço à "Igreja conciliar" (21/11/1974). "Nós aderimos de todo coração, com toda a alma à Roma católica...à Roma eterna, mestra da sabedoria e da verdade. Nós negamos, porém - como nos temos negado sempre -, a seguir a Roma de tendência neomodernista e neoprotestante, que se manifestou claramente no Concílio Vaticano II, e depois do Concílio, em todas as reformas que dele surgiram".

"Nenhuma autoridade, nem sequer a mais elevada Hierarquia, pode nos obrigar a abandonar ou diminuir nossa Fé católica, claramente expressada e professada  pelo Magistério da Igreja há dezenove séculos...Esta reforma, por haver surgido do liberalismo, do modernismo, está completamente envenenada; sai da heresia e desemboca na heresia, mesmo quando todos os seus atos não sejam formalmente heréticos...A única atitude de fidelidade à Igreja e à doutrina católica, para nossa salvação, é o rechaço categórico da aceitação da Reforma"...Adiciona Tissier: "Apenas Mons. Lefebvre acaba a leitura de sua declaração, os seminaristas aplaudem, conscientes de estar vivendo um momento decisivo" (Tissier 506).

São anos em que Mons. Lefebvre acentua mais e mais seu combate público contra o Concílio, a Missa nova e no geral contra a "Igreja conciliar". Algumas de suas obras são particularmente agressivas: La Messe de Luther (1975), J'accuse le concile (1976), Le coup de maître de Satan, Écône face à la persécution (1975), etc.

1975. O rechaço absoluto da nova Missa é a causa principal da supressão da FSSPX. Cumprido o prazo de cinco anos de aprovação temporal, o bispo Mons. Mamie, sucessor de Mons. Charrière, não renova a permissão da FSSPX, ou seja, a suprime em um ato confirmado pela Santa Sé, sob Paulo VI. Mons. Lefebvre eleva recurso à Assinatura Apostólica, mas não é admitido à trâmite. Rompendo então com a ordem canônica da Igreja, Mons. Lefebvre decide que a FSSPX e seu Seminário devem continuar sua existência, considerando que dela depende a continuidade histórica da mesma Igreja Católica.

1976. Mons. Lefebvre é suspendido a divinis, e adiante não pode mais celebrar a Missa e os sacramentos licitamente. Havendo recebido uma admoestação da Santa Sé para que não procedesse a ordenação da primeira leva de seminaristas formados em Écône, ele desobedece o mandato, realiza as ordenações e é suspendido a divinis (22/07/1976). Mons. Lefebvre, que considera desde o princípio que a suspensão é nula, um mês depois (29/08) celebra a Missa de São Pio V em um pavilhão desportivo de Lille diante de 7.000 fiéis e numerosos meios de comunicação, e proclama na homilia diante de uns 400 jornalistas:

"A Revolução [de 1789] fez mártires, mas não é nada em comparação ao Concílio Vaticano II: sacerdotes apóstatas de seu sacerdócio! O matrimônio entre a Igreja e a Revolução que queriam os católicos liberais triunfantes, que dizem: "com o Vaticano II tem sido aceitas nossas teses", é um matrimônio adúltero. E desta união adúltera não pode nascer senão bastardos. O novo rito da missa é um rito bastardo, os sacramentos [dos rituais renovados] são sacramentos bastardos, os sacerdotes que saem dos seminários são sacerdotes bastardos: já não sabem que são constituídos para subir ao altar para oferecer o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo" (Tissier 516-517).

1987. Passam os anos e o enfrentamento da FSSPX com a Igreja vai chegando à uma fase máxima. No livro "Eles O destronaram" (1987) Mons. Lefebvre combate duramente contra o Vaticano II, e especialmente contra o decreto da liberdade religiosa (Dignitatis Humanae). Esta obra, dividida em quatro partes e 34 capítulos, reúne uma coleção de conferências e escritos de Mons. Lefebvre. Assinalo o título de alguns capítulos: O banditismo do Vaticano II (parte IV, 24), Um liberalismo suicida: as reformas pós-conciliares (32), etc.

Na III parte, A Conspiração Liberal de Satanás contra a Igreja e o Papado, recorda Mons. Lefebvre alguns documentos secretos obtidos por Gregório XVI e Pio IX. Neles se descrevem os planos satânicos que entre os anos 1820 e 1846 teriam traçados a loja Alta Venta dos Carbonários com o expresso fim de destruir a Igreja desde dentro. "O Papa, seja quem for, não virá jamais às sociedades secretas: são as sociedades secretas as que tem de dar o primeiro passo à Igreja" para vencê-la..."Não queremos ganhar aos Papas para nossa causa, fazê-los neófitos de nossos princípios, propagadores de nossas idéias. Seria um sonho ridículo...O que nós devemos procurar e esperar, como os Judeus esperam o Messias, é um papa segundo nossas necessidades"...O plano desenhado é infiltrar seu espírito na Igreja, sobretudo nos seminários e conventos, até que os princípios maçônicos e liberais sejam os predominantes. "Se quereis estabelecer o reino dos eleitos sob o trono da prostituta da Babilônia, que o clero marche sob vosso estandarte, crendo ir sempre atrás da bandeira das chaves apostólicas".

Terrível plano diabólico, comenta Mons. Lefebvre: "um papa seduzido pelas idéias liberais, um papa que utilize as chaves de São Pedro ao serviço da contra-Igreja. Agora bem, não é acaso o que vivemos atualmente desde o Vaticano II e desde o novo Direito Canônico? Com esse falso ecumenismo e essa falsa liberdade religiosa promulgados no Vaticano II e aplicados pelos papas com fria perseverança, apesar de todas as ruínas que tem provocado desde há mais de vinte anos! Sem que se haja comprometido a infalibilidade do Magistério da Igreja, inclusive talvez sem que jamais haja sido sustentada uma heresia propriamente dita, assistimos a autodemolição sistemática da Igreja. Autodemolição é uma palavra de Paulo VI, que implícitamente denunciava ao verdadeiro culpado, pois quem pode "autodemolir" a Igreja senão aquele cuja missão é mantê-la em rocha firme?...E que ácido tão eficaz para dissolver a rocha como o espírito liberal que penetra ao mesmo sucessor de Pedro!...Este plano é de inspiração diabólica e de realização diabólica! Não só revelou os inimigos da Igreja, mas também os papas os desvelaram e predisseram".

A Fraternidade Sacerdotal São Pio X e Roma é uma importante e larga conferência que Mons. Lefebvre dita meses antes de ordenar quatro bispos para a FSSPX (Fideliter nº55, 01/02/1987). Dela destaco alguns textos mais significativos.

A Missa publicada por Paulo VI. Em 1975 a FSSPX, como já vimos, é suprimida porque essa rechaça a Missa renovada por Paulo VI. É o bispo Mons. Mamie que o decide e o comunica: "É inadmissível. Portanto lhes suprimimos". Exibe então o Ordo [Missae] de Mons. Bugnini, inventado, antes inexistente. A obrigação da nova missa foi imposta pelos serviços do Vaticano e pelos bispos na França. Deste modo, desgraçadamente, a Missa antiga foi abandonada por comunidades como a Abadia de Fontgombault, sob o pretexto  de que era preciso obedecer aos bispos. Todo ele foi imposto pela força, por obrigação. Se pretendia absolutamente nos obrigar a abandonar esta liturgia e, pelo mesmo, fechar nosso seminário.

"Ante tal postura e ilegalidade na que tudo havia sido fato e sobretudo ante o espírito com que aquela perseguição havia sido orquestrada, um espírito modernista, progressista e maçônico, nós críamos que era um dever continuar. Não é possível admitir uma coisa que foi feita ilegalmente, em um espírito mal, contra a Tradição e contra a Igreja, para destruí-la".

"Se nossos sacerdotes abandonaram a liturgia verdadeira, o verdadeiro Santo Sacrifício da Missa, os verdadeiros sacramentos, não valeria então a pena continuar. Seria suicidarmos!...Faria desaparecer nossos seminários. Não poderia aceitar a nova liturgia, seria introduzir o veneno do espírito conciliar na comunidade". E segue dizendo:

Três erros. "Há três erros fundamentais, que, de origem maçônica, são professados publicamente pelos modernistas que ocupam a Igreja. A substituição do Decálogo pelos Direitos do Homem [em referência à liberdade religiosa]...Este falso ecumenismo que estabelece de fato a igualdade entre as religiões...E a negação do reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo mediante a laicização dos Estados. O Papa tem querido e tem conseguido praticamente laicizar as Sociedades, e portanto suprimir o reinado social de Nosso Senhor sobre as Nações".

"A situação é, pois, extremamente grave, porque tudo indica que a realização do ideal maçônico haja sido cumprido pela mesma Roma, pelo Papa e os cardeais. É isto os que os franco-maçons sempre desejaram, e o conseguiram não por si mesmos, mas pelos próprios homens da Igreja".

Excomunhões nulas. Por tudo o qual, as sanções eclesiais aplicadas à Mons. Lefebvre e à FSSPX são nulas. "É esta Roma liberal a que nos tem condenado. Mas condenando assim a Tradição, a Verdade. Nós temos rechaçado esta condenação porque a consideramos nula e inspirada pelo espírito modernista. O que nós fizemos e continuamos fazendo é trabalhar para a manutenção da Tradição. Nós temos falado assim em uma situação de aparente desobediência legal, mas continuamos ordenando sacerdotes, dando sacerdotes aos fiéis para a salvação de suas almas"...

1988. As ordenações cismáticas de quatro bispos da FSSPX (18/06/1988) já foram consideradas e descritas por mim em outro artigo (126), onde recordei as graves admoestações prévias da Santa Sé, as normas da lei canônica, a carta urgente do Papa, etc. Em várias ocasiões, antes de proceder as ordenações de bispos, fez Mons. Lefebvre um bom número de consultas à pessoas de sua maior confiança (Tissier 566-576). Os conselhos que recebeu foram diversos.

Não poucos são os que aconselham as consagrações episcopais. Mas são também muitos, como o Pe. José Bisig, seu segundo assistente, e os futuros bispos ordenados Tissier e Williamson, os que estimam que não deve realizar-se um ato que praticamente viria a negar o Primado de Pedro (Tissier 568-569). E nesta situação de conselhos díspares, é pessoalmente Mons. Lefebvre que toma a decisão de ordenar. O Pe. Bisig,  imediatamente, sai da FSSPX, viaja à Roma com um grupo de sacerdotes e de seminaristas, é recebido pelo Papa, e pouco depois iniciam a Fraternidade Sacerdotal São Pedro. Tissier e Williamson aceitam a ordenação episcopal: "Mons. tem graças para decidir, e nós temos graça para seguí-lo" (591). Nesta e em outras circunstâncias se comprova que a liderança pessoal de Mons. Lefebvre era muito forte.

Por outra parte, esta decisão já estava há um tempo quase tomada na mente de Mons. Lefebvre. Um ano antes, reunido em Fátima com seus mais próximos colaboradores (22/08/1987), lhes disse: "Não podemos seguir à esta gente, é a apostasia, não crêem na divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que deve reinar. Por quê vamos esperar mais? Procedamos à consagração" de bispos.

Há que reconhecer que vendo a Igreja como Mons. Lefebvre via, era lógico que ordenasse bispos, embora incorresse com ele em um ato cismático (João Paulo II, Ecclesia Dei, 02/07/1988). Essas ordenações episcopais cismáticas eram um dever grave de consciência (atenção) se se crê, como Mons. Lefebvre, que nesse tempo o Papa [o beato João Paulo II] era o Anticristo. Que tinha feito qualquer um de nós se nos tivéssemos visto em uma situação semelhante?...O Anticristo ocupou a Sé de Pedro: que devemos fazer?...Evidentemente: ordenar bispos sem sua permissão, e se é preciso contra seu expresso mandato. Nos tivéramos crido movidos por Deus a criar bispos católicos "para que continue a Igreja". De um espantoso diagnóstico sobre a Igreja procede um ato cismático espantoso. Mons. Lefebvre o expressa com toda precisão em sua Carta aos futuros bispos (29/08/1987):

"Muito queridos amigos, estando a Sé de Pedro e os postos de autoridade de Roma ocupados por anticristos, a destruição do Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo se produz aceleradamente...Me vejo obrigado, pois, pela Providência divina a transmitir a graça do episcopado que eu recebi, com o fim de que a Igreja e o sacerdócio católico continuem subsistindo" (Tissier 578).

O sermão de Mons. Lefebvre nas ordenações episcopais de 1988 nos dá também algumas chaves importantes para melhor conhecer o lefebvrismo. Achei o texto completo em inglês e em espanhol, mas estranhamente não em francês.

"Sabem bem, queridos irmãos, como Leão XIII, em uma visão profética que teve, disse que um dia a Sé de Pedro seria a sede da iniqüidade. O disse em um de seus exorcismos, no "exorcismo de Leão XIII". É Hoje? Amanhã? Não sei. Em todo caso, foi anunciado. A iniqüidade pode ser simplesmente o erro. O erro é uma iniqüidade: não professar já a Fé de sempre, não professar já a Fé católica, é um grave erro; se há uma grande iniqüidade, é precisamente essa! Realmente creio que posso dizer que não tem havido nunca uma iniqüidade tão grande na Igreja que o encontro de Assis", etc.

"E não somente o Papa Leão XIII profetizou estas coisas, mas Nossa Senhora. Ultimamente, o sacerdote que está encarregado do Priorado de Bogotá [da FSSPX] na Colômbia, me trouxe um livro que versa sobre as aparições de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que tem uma igreja, uma grande igreja no Equador, em Quito, capital do Equador. Estas aparições à uma religiosa, tiveram lugar em um convento de Quito pouco tempo depois do Concílio de Trento...Esta Virgem milagrosa é honrada ali com muita devoção pelos fiéis do Equador e profetizou para o século XX. Disse à esta religiosa claramente: "Durante o século XIX e a maior parte do século XX, os erros se propagarão cada vez com mais força na Santa Igreja, e levarão a Igreja à uma situação de catástrofe total, de catástrofe! Os costumes se corromperão e a Fé desaparecerá". Nossa impressão é que não podemos deixar de constatá-lo.

"Peço desculpas por continuar o relato desta aparição, mas nela se fala de um prelado que se oporá totalmente à esta onda de apostasia e de impiedade e preservará o sacerdócio preparando bons sacerdotes. Façam vocês a aplicação se quiserem, eu não quero fazê-lo. Eu mesmo me vi sentido estupefato lendo essas linhas, não posso negá-lo. Está inscrito, impresso, consignado nos arquivos desta aparição".

Vejamos, finalmente, qual é a situação atual da FSSPX. Para melhor entendê-la, convém recordar que durante muitos anos Mons. Lefebvre tem como seu mais importante interlocutor na Santa Sé ao Cardeal Ratzinger. Este, pouco depois de ser constituído Papa, Bento XVI, realiza dois atos de grande importância:

- 1º. Mediante o motu proprio Summorum Pontificum (07/07/2007), reafirma o Papa na Igreja católica a Missa publicada por Paulo VI (1970) como forma ordinária da Liturgia Eucarística, e estabelece como forma extraordinária a Missa antiga, anterior ao Concílio Vaticano II, na publicação autorizada por João XXIII (1962), nunca havia sido propriamente abrogada.

As conseqüências que este motu proprio tem na licitude das Missas celebradas por sacerdotes da FSSPX vêm precisadas em uma carta (23/05/2008) que monsenhor Camille Perl, Vice-presidente da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, escreve ao Sr. Brian Mershon, respondendo várias perguntas concretas que este havia formulado à Comissão.

Os sacerdotes da Sociedade de São Pio X estão validamente ordenados, mas suspendidos, isso é: proibidos de exercitar suas funções sacerdotais porque não estão propriamente incardinados em uma diocese ou instituto religioso em plena comunhão com a Santa Sé...Isso significa que as Missas oferecidas pelos sacerdotes da Sociedade de São Pio X são válidas, mas ilícitas, i.e., contrárias à Lei Canônica"...

Leva, pois, decênios a FSSPX celebrando ilicitamente a Santa Missa. Isso se explica porque a Fraternidade sempre tem considerado que tanto as excomunhões como as suspensões a divinis eram e são radicalmente nulas. 

- 2º. Bento XVI levanta a excomunhão dos quatro bispos da FSSPX mediante um decreto da Congregação dos Bispos (21/01/2009).

Este ato é apresentado pela FSSPX como uma grande vitória. Mons. Fellay, seu Superior Geral, comunica em uma carta circular que:

"a excomunhão dos bispos consagrados por S. E. Mons. Marcel Lefebvre à 30 de junho de 1988, que havia sido declarada pela Sagrada Congregação dos Bispos por um decreto de julho de 1988, e que nós sempre rechaçamos, foi retirada por outro decreto da mesma Congregação, fechado à 21 de janeiro de 2009 por mandato do Papa Bento XVI...Graças à esse gesto, os católicos do mundo inteiro apegados à Tradição já não serão mais injustamente estigmatizados e condenados por haver mantido a fé de seus padres. A Tradição católica já agora não está excomungada...Aceitamos e fazemos nossos todos os Concílios até o Vaticano II. Mas não podemos mais que ter reservas sobre o Concílio Vaticano II...Esperamos a pronta reabilitação de Monsenhor Marcel Lefebvre" (Menzingen, 24/01/2009).

De outro lado, a remissão da excomunhão "suscitou por múltiplas razões dentro e fora da Igreja Católica uma discussão de uma veemência como não se havia visto desde há muito tempo". Assim disse o Papa no documento que segue.

Bento XVI se vê obrigado, pois, a escrever uma carta para explicar seu ato de benevolência (10/03/2009). O Papa nela corrige tanto o triunfalismo falso lefebvriano como o amargo e duro rechaço de uma parte dos católicos, especialmente centro-europeus. Nesta carta, pois, declara o sentido verdadeiro de seu benigno gesto.

"A Igreja, escreve o Papa, teve de reagir em 1988 contra as ordenações episcopais realizadas na FSSPX "com a sanção mais dura, a excomunhão, com o fim de chamar as pessoas sancionadas deste modo ao arrependimento e a volta à unidade. Por desgraça, vinte anos depois da ordenação, este objetivo não se tem cumprido todavia.

"A remissão da excomunhão tende ao mesmo fim ao que serve a sanção: convidar uma vez mais aos quatro bispos ao retorno. Este gesto era possível depois de que os interessados reconheceram em linha de princípio ao Papa e sua potestade de Pastor, apesar das reservas sobre a obediência à sua autoridade doutrinal e à do Concílio...

"Até que as questões relativas à doutrina não se aclarem, a Fraternidade não tem nenhum estado canônico na Igreja, e seus ministros, não obstante haja sido liberados da sanção eclesiástica, não exercem legitimamente ministério algum na Igreja...

"Certamente, desde há muito tempo e depois uma ou outra vez nesta ocasião concreta, temos escutado de representantes dessa comunidade muitas coisas fora de tom: soberba e presunção, obsessões sobre unilateralismos, etc. Por amor à verdade, devo acrescentar que também recebi uma série de impressionantes testemunhos de gratidão, nos quais percebia uma abertura dos corações...

"E acaso não devemos admitir que também no âmbito eclesial surgiu alguma dissonância? Às vezes se tem a impressão de que nossa sociedade tenha necessidade de um grupo ao menos com o qual não ter tolerância alguma; contra o qual possa tranqüilamente arremeter com ódio. E se algum intenta aproximar-se - neste caso o Papa - também perde o direito à tolerância e pode também ser tratado com ódio, sem temor nem reservas".

Colaboremos com o Papa de todo coração em seu intento de alcançar que a FSSPX retorne à plena unidade da Igreja. 1º. Colaboremos principalmente com a oração: oremos, oremos, oremos. 2º. Colaboremos com o testemunho da verdade. Favorecemos a plena unidade da FSSPX com a Igreja Católica:

- denunciando as infidelidades doutrinais, litúrgicas e disciplinares que hoje lesionam a Igreja Católica, e afirmando as verdades católicas, especialmente aquelas mais silenciadas ou negadas; deste modo se reafirma a continuidade do Magistério apostólico, enquanto que a ruptura com a Tradição católica prevalece em tantos âmbitos eclesiais [vejam neste blog (1-125)]; e colaboramos também:

- descrevendo e rechaçando os erros dos lefebvrianos, pois deste modo se lhes ajuda a que se dessolidarizem dos mesmos, condição necessária para que possam "arrepender-se e voltar à unidade" da Igreja, a que com tanto empenho lhes chama bondosamente Bento XVI, e todos os que estamos plenamente unidos à ele na comunhão católica [vejam neste blog (126-129) e algum artigo mais, se Deus quiser].

José María Iraburu, sacerdote

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