"As obras de Suas mãos são verdade e justiça; Imutáveis os Seus preceitos; Irrevogáveis pelos séculos eternos; Instituídos com justiça e eqüidade." - Salmo 110, 7-8

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Papa João Paulo II - Audiência geral (24/01/1996)

Fonte: Santa Sé

Maria no Proto-Evangelho

1- "Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor" (Lumen gentium, 55).

Com estas afirmações, o Concílio Vaticano II nos recorda como foi se delineando a figura de Maria desde os começos da história da salvação. Já se vislumbra nos textos do Antigo Testamento, mas só se entende plenamente quando esses textos se leem na Igreja e se compreendem à luz do Novo Testamento.

De fato, o Espírito Santo, ao inspirar os diversos autores humanos, orientou a Revelação veterotestamentária para Cristo, que se encarnaria no seio da Virgem Maria.

2- Entre as palavras bíblicas que pré-anunciaram  a Mãe do Redentor, o Concílio cita, principalmente, aquelas com as que Deus, depois da queda de Adão e Eva, revela Seu plano de Salvação. O Senhor disse à serpente, figura do espírito do mal: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gênesis 3, 15).

Essas expressões, denominadas pela tradição cristã, desde o século XVI, Proto-Evagelho, a saber, primeira boa nova, deixam entrever a vontade salvífica de Deus já desde as origens da humanidade. De fato, frente ao pecado, segundo a narração do autor sagrado, a primeira reação do Senhor não consistiu em castigar aos culpados, mas em abrir-lhes uma perspectiva de salvação e comprometê-los ativamente na obra redentora, mostrando Sua grande generosidade também para quem O havia ofendido.

As palavras do Proto-Evangelho revelam, ademais, o singular destino da mulher que, apesar de haver precedido ao homem ao ceder ante a tentação da serpente, logo se converte, em virtude do plano divino, na primeira aliada de Deus. Eva foi a aliada da serpente para arrastar o homem ao pecado. Deus anuncia que, invertendo esta situação, Ele fará da mulher a inimiga da serpente.

3- Os exegetas concordam em reconhecer que o texto do Gênesis, segundo o original hebreu, não atribui diretamente à mulher a ação contra a serpente, mas à sua linhagem. De todo modo, o texto de grande relevo ao papel que ela desempenhará na luta contra o tenatador: sua linhagem será a vencedora da serpente.

Quem é esta mulher? O texto bíblico não refere seu nome pessoal, mas deixa vislumbrar uma mulher nova, querida por Deus para reparar a queda de Eva: ela está chamada a restaurar o papel e a dignidade da mulher, e a contribuir na mudança do destino da humanidade, colaborando mediante sua missão materna a vitória divina sobre Satanás.

4- À luz do Novo Testamento e da Tradição da Igreja, sabemos que a mulher nova anunciada pelo Proto-Evangelho é Maria, e reconhecemos em "sua linhagem" (Gênesis 3, 15), seu filho, Jesus, triunfador no mistério da Páscoa sobre o poder de Satanás.

Observemos, assim mesmo, que a inimizade posta por Deus entre a serpente e a mulher se realiza em Maria de duas maneiras. Ela, aliadas perfeita de Deus e inimiga do diabo, foi livrada completamente do domínio de Satanás em sua concepção imaculada, quando foi modelada na graça pelo Espírito Santo e preservada de toda mancha de pecado. Ademais, Maria, associada à obra salvífica de seu Filho, esteve plenamente comprometida na luta contra o espírito do mal.

Assim, os títulos de Imaculada Conceição e Cooperadora do Redentor, que a fé da Igreja atribui à Maria para proclamar sua beleza espiritual e sua íntima participação na obra admirável da Redenção, manifestam a oposição irredutível entre a serpente e a nova Eva.

5- Os exegetas e teólogos consideram que a luz da nova Eva, Maria, desde as páginas do Gênesis se projeta sobre toda a economia da salvação, e veem já nesse texto o vínvulo que existe entre Maria e a Igreja. Notemos aqui com alegria que o termo mulher, usado na forma genérica pelo texto do Gênesis, impulsa a associar com a Virgem de Nazaré e sua tarefa na obra da salvação especialmente as mulheres, chamadas, segundo o desígnio divino, a comprometer-se na luta contra o espírito do mal.

As mulheres que, como Eva, poderiam ceder ante à sedução de Satanás, pela solidariedade com Maria recebem uma força superior para combater o inimigo, convertendo-se nas primeiras aliadas de Deus no caminho da salvação.

Esta aliança misteriosa de Deus com a mulher se manifesta de múltiplas formas também em nossos dias: na assiduidade das mulheres à oração pessoal e ao culto litúrgico, no serviço da catequese e no testemunho da caridade, nas numerosas vocações femininas à vida consagrada, na educação religiosa em família...

Todos estes sinais constituem uma realização muito concreta do oráculo do Proto-Evangelho, que, sugerindo uma extensão universal da palavra mulher, dentro e mais além dos confins visíveis da Igreja, mostra que a vocação única de Maria é inseparável da vocação da humanidade e, em particular, de toda mulher, que se ilumina com a missão de Maria, proclamada primeira aliada de Deus contra Satanás e o mal.

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