Fonte: Forum Libertas (Tradução livre)
"Ou santificamos as festas, como europeus, ou sem raízes copiaremos a China coletivista"
O domingo festivo - herdeiro do sabbat judeu - é, provavelmente, o maior avanço dos trabalhadores em toda a história, e se generalizou no Ocidente por decreto do Imperador Constantino no século IV, inclusive exigindo o descanso dos escravos (na Roma pagã se trabalhava 7 dias na semana e se acusava de preguiçosos aos judeus por seu descanso semanal religioso). A cultura do feriado semanal (muitas vezes o domingo) se extendeu logo à todo o mundo, à países de culturas diversas.
Este grande avanço corre perigo no Ocidente, incluindo a Espanha. Segundo El Confidencial Digital, as companhias comerciais mais importantes querem pressionar ao PP (Partido Popular) para que suas comunidades autônomas (agora quase todas) permitam abrir seus estabelecimentos durante 22 domingos ao ano (algo que já se faz em Madrid; as outras comunidades permitem somente 8 domingos ao ano). O Corte Inglés, C&A, Alcampo, Mediamarkt, Ikea, Carrefour e outras, já estão negociando com os populares esta medida.
Marx defende o domingo...o cardeal, não o comunista
Há militantes de ideologia liberal (como os de ideologia comunista) que insistem em quantificar economicamente o domingo trabalhado, mas os benefícios do domingo como feriado vão mais além do econômico e a Igreja se prepara para defender o domingo e enfrentar as ideologias materialistas, de esquerdas ou de direitas.
O cardeal alemão Reinhard Marx, homem de confiança de Bento XVI e especialista em Doutrina Social, acostumado a fazer piadas sobre seu xará Karl Marx, trata o tema do domingo em seu livro "O Capital, um apelo pelo ser humano" (Ed. Planeta).
"A redução funcionalista de um pensamento meramente economicista, O'Donovan [ex-presidente da Universidade de Georgetown] opõe a tradição do legado judaico-cristão, como se manifesta no preceito do descanso do sabbat desde o princípio da criação. O sabbat, ou o domingo em nosso caso, é o dia do descanso do Senhor, deve sê-lo também do homem. Nesta função aparentemente inútil, tem o domingo um profundo sentido. A interrupção da atividade diária oferece ao homem a possibilidade de encontrar-se consigo mesmo, e de ir mais além de si mesmo e dirigir-se à Deus", escreve o cardeal Marx.
Depois, cita um grande defensor do domingo como feriado, o filósofo alemão Robert Spaemann, que afirma que "a pergunta o que nos custa o domingo ou o que estamos dispostos à que nos custe como máximo, é uma pergunta capciosa, que esconde uma condenação do descanso dominical".
Já em um texto de 2001, Spaemann advertia:
"O domingo é domingo precisamente porque não custa nada e, no sentido econômico, não prevê nada. A pergunta de quanto custa preservá-lo como dia em que não se trabalha supõe já haver convertido mentalmente o domingo em um dia de trabalho para calcular depois quanto deixamos de ganhar renunciando à esse dia de trabalho. Mas justamente esse cálculo têm destruído o sentido fundamental que define o domingo nos países cristãos, o sábado entre os judeus e a sexta-feira no Islã. Este sentido radica em que o domingo não forma parte do sistema funcional de nossa existência. Nesse dia não somos servos, mas senhores. Não servimos para algo, simplesmente somos, e tudo o mais não importa" (Spaemann, Zur ethischen dimension des Handelns)."
Desde 2008, os bispos católicos europeus, representados nas instituições européias mediante a COMECE (Comissão das Conferências Episcopais da União Européia) estão trabalhando com diversos movimentos para que a Europa reforce suas raízes culturais (e trabalhistas!) reconhecendo o domingo como um dia especial. "Durante vários anos, não tem havido nem rastro do caráter específico do domingo nos documentos da União Européia", denunciava em outubro de 2010 o secretário da COMECE, Piotr Mazurkiewicz.
"Uma pessoa necessita ao menos um dia de descanso na semana para recuperar-se, por exigências espirituais e para ter tempo para estar com a família", explicou Mazurkiewicz. Por esses motivos, "é muito importante garantir e proteger o dia de domingo, como dia livre, como estão pedindo associações culturais, movimentos religiosos e sindicatos", disse.
Naquela época sondava-se a possibilidade de recolher "um milhão de assinaturas em nove países da União Européia", e a Polônia se mostrava especialmente militante. O bispo de Tarnów, Wiktor Skworc, afirmava que "não se pode imaginar a Europa de hoje sem o domingo como um dia para a família". Sacerdotes de cinco dioceses, jornalistas e membros de movimentos e associações polacas (Associação Igreja Doméstica, Associação Católica da Juventude e Ação Católica), convidados pelo eurodeputado polaco Pawel Kowal, apresentaram suas petições neste sentido em Bruxelas.
Na França, em 2010, o Coletivo de Amigos do Domingo (completamente aconfecional) recolheu cem mil assinaturas autenticadas (8 mil em papel e 96 mil eletrônicas em seu site http://www.travail-dimanche.com) para proteger este dia. O site dava numerosos argumentos favoráveis ao domingo, incluindo o trabalho e a saúde. Precedia-os como um êxito uma nova lei na Croácia, com efeito desde 1º de janeiro de 2009, em que se implantava o fechamento da maior parte das empresas e lojas no domingo.
Mas a grande campanha das Igrejas à favor do domingo na Europa será à partir de 20 de junho em Bruxelas, segundo explica a COMECE. Formará parte de uma aliança entre católicos, protestantes, ortodoxos, sindicatos e movimentos cívicos.
O ensinamento católico à respeito é claro no Catecismo (parágrafo 2188): "No respeito pela liberdade religiosa e pelo bem comum de todos, os cristãos devem esforçar-se pelo reconhecimento dos domingos e dias santos da Igreja como dias feriados legais. Devem dar a todos o exemplo público de oração, respeito e alegria, e defender as suas tradições como uma contribuição preciosa para a vida espiritual da sociedade humana".
Um comentário:
Esse artigo me fez lembrar na época que trabalhava em comércio e tinha que trabalhar aos domingos... aff!
Comércio e domingos trabalhados nunca mais!
Postar um comentário