"As obras de Suas mãos são verdade e justiça; Imutáveis os Seus preceitos; Irrevogáveis pelos séculos eternos; Instituídos com justiça e eqüidade." - Salmo 110, 7-8

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O dia em que o Papa abalou os alicerces do mito protestante da Grã-Bretanha.

Como é estranho que tenha sido o jornal The Guardian que compreendeu a magnitude do que aconteceu nesta sexta-feira.

A análise é do jornalista britânico especialista em religião Damian Thompson, editor dos blogs do portal The Telegraph Blogs. O texto foi publicado no portal do jornal The Telegraph, 18-09-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Andrew Brown, editor de religião e possuidor de um intelecto tão poderoso e confuso como o de Rowan Williams, escreve:

Este foi o fim do Império Britânico. Em todos os quatro séculos de Isabel I aIsabel II, a Inglaterra foi definida como uma nação protestante. Os católicos eram os Outros, às vezes terroristas violentos e rebeldes, às vezes meros imigrantes sujos. A sensação de que esta era uma nação especialmente abençoada por Deus surgiu a partir de uma leitura profundamente anticatólica da Bíblia. No entanto, ela foi central para a autocompreensão inglesa quando a rainha Isabel II foi coroada em 1952 [sic], e jurou defender a religião protestante pela lei estabelecida.

Em todos esses 400 e tantos anos, teria sido impensável que um Papa pudesse estar no Westminster Hall e louvar Sir Thomas More, que morreu para defender a soberania do Papa contra a soberania do rei. A rebelião contra o Papa foi o ato fundacional do poder inglês. E agora esse poder se foi, e talvez a rebelião também.

Esse foi, realmente, um dia de eventos impensáveis. Muitos protestantes ficaram perturbados ao ver o Papa Bento XVI no Westminster Hall louvando São Thomas More (que aliás morreu para defender o que ele via como a soberania de Deus). Eu não concordo, no entanto, que a rebelião contra o Papa foi o “ato fundacional do poder inglês”. Brown é um agnóstico de esquerda suspeito de um mito nacional.

Mas aqui vamos nós de novo – contaram-nos que a Inglaterra descobriu a sua identidade como um resultado da Reforma. Na verdade, a indústria e a cultura inglesas floresceram sob o patrocínio espiritual de Roma. Se o país tivesse permanecido católico, elas teriam continuado a florescer. (Na Alemanha, cidades que permaneceram católicas eram tão prósperas quanto as que se tornaram protestantes).

Na verdade, se você quiser provas da autoconfiança da nossa identidade nacional católica, procure na Abadia de Westminster e no Westminster Hall. Pelo menos nos primeiros 500 anos da sua existência – não podemos ter certeza de quando foi fundada –, a Abadia foi obediente aos antecessores de Bento XVI.

Assim, o fato de o Papa entrar hoje na Abadia foi uma afirmação do seu próprio “ato fundacional”. Não é por nada que ele apontou em seu discurso que a Igreja era dedicada aSão Pedro. Mesmo católicos que nunca seriam tão rudes para dizer “a Abadia pertence a nós, não a você” sentiram que a história estava sendo re-equilibrada de alguma forma. Eles perceberam que o Papa tinha tanto direito de se sentar nesse santuário quanto o arcebispo de Canterbury (que, na verdade, mostrou ao Santo Padre um grau de respeito que implicava que ele, pelo menos, reconhecia a primazia espiritual da Sé de Pedro mesmo que ele rejeite alguns de seus ensinamentos).

É claro que eu não estou negando que durante séculos o anticatolicismo foi central para a autocompreensão inglesa, mesmo que tenha levado quase um século de ataques e de perseguições para suprimir a velha religião. E ainda há bolsões de intenso ódio a Roma na sociedade inglesa de hoje. A diferença é que os únicos anticatólicos com influência são os secularistas que não estão suficientemente interessados nas reivindicações papais de forma a descobrir o que elas são. (Estou pensando no documentário surpreendentemente ignorante de Peter Tatchell para o Channel 4). Eles odeiam a religião e atormentam os católicos, porque são o alvo mais frágil.

Os anticatólicos protestantes, em contrapartida, não têm amigos na mídia ou aliados úteis naIgreja da Inglaterra. Tudo o que eles podem fazer é assistir com horror como o fato de o Papa de Roma entrar em procissão dentro da igreja onde monarcas protestantes são coroados declara sem ambiguidade que ele é o sucessor de São Pedro com responsabilidade pela unidade da cristandade, e depois sair novamente – para um caloroso aplauso.

Na verdade, ainda não estou completamente certo do que fazer com tudo isso. Os discursos de Bento XVI valem a pena ser lidos várias vezes. Eles muitas vezes acabam sendo mais radicais do que pareceram à primeira vista. Mas uma coisa é certa. Apesar da cortesia despretensiosa das maneiras do Papa, ele não cedeu um milímetro.

Fonte: Blog Shalom - Carmadélio

2 comentários:

Pseikone disse...

Durossele tem um livro com um título interessante: todo império perecerá.

Se tomarmos por base o que o comentarista do The Guardian falou, então o império britânico, fundado a partir da traição praticada pelo Rei Henrique VIII à fé que ele jurou defender, está morto e enterrado pelo bem da humanidade.

Impérios fundados a partir de heresias, como negar a autoridade do papa ou perseguindo católicos, estes sempre perecerão um dia na História. Nenhum nacionalismo fundado a partir da heresia de que o Estado é mais importante do que a fé de seu povo durará. Nenhum Estado que promove a liberdade religiosa protegendo legalmente liturgias heréticas e dando imunidade a templos que cultuam seitas moralmente questionáveis trabalha pelo bem da liberdade de seu povo.

A nacionidade de um povo se mede pela capacidade que um povo tem de manter atualizadas suas tradições, com base na fé católica, sem que estas se pervertam pelo progressismo revolucionário ou herético.

Estou muito feliz pela notícia que vi aqui. Meus cumprimentos à Sara, por postar esta notícia relevante.

Sara Rozante disse...

Seu comentário também foi interessante e preciso, caro José Octávio.
O nacionalismo fundado em heresias, como você bem disse, acaba com perseguições e/ou por estados cada vez mais seculares.
Oras, até países monárquicos que admiro estão em deixando a moral ser relativizada. Como é o caso, por exemplo, de Espanha (aborto) e Suécia (casamento homossexual).

Sara Rozante

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