"As obras de Suas mãos são verdade e justiça; Imutáveis os Seus preceitos; Irrevogáveis pelos séculos eternos; Instituídos com justiça e eqüidade." - Salmo 110, 7-8

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Reflexão: Como educar nossos filhos

Doutrina para crianças (1274-1276) - Ramon Llull

Dos Dez Mandamentos
XIII. O Primeiro Mandamento

1. O mandamento é fazer o que deve ser feito. Assim, o primeiro mandamento é adorar, amar e servir um Deus, pois não existe mais que um Deus tão somente.
2. Filho, a ti convém crer que Nosso Senhor Deus deu as leis dos Judeus no Monte Sinai, e fez o mandamento que nenhum homem se colocasse ou servisse mais de um Deus, mas somente um Deus, que criou e fez tudo quanto existe.
3. Filho, naquele tempo, os judeus eram amigos de Nosso Senhor Deus, acreditavam Nele e eram contra o povo que acreditava em ídolos de pedra, de ouro, de prata e de outras coisas. E cada príncipe fazia uma forma semelhante ao homem, de madeira ou de outra coisa, e a adorava como se fosse Deus.
4. Por isso, o Deus do céu e da terra ordenou a Israel, que era o povo dos judeus, que não fizesse deuses estranhos, isto é, que não fizesse ídolos, e que adorasse somente a um Deus verdadeiro.
5. Saibas, filho, que a Lei dos judeus foi dada no princípio, e é chamada de Lei Velha; e de Nova é chamada a Lei que agora os cristãos têm, que foi dada por Nosso Senhor Jesus Cristo. São os Evangelhos que ouvimos ler na santa igreja.
6. Sabes, filho, por que Deus deu uma lei aos judeus? Para que não estivessem no erro no qual estavam as outras gentes que acreditavam em ídolos. E para que seu povo tivesse profetas que anunciassem vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, e para que, naquele povo dos judeus, nascesse Nossa Senhora Santa Maria, na qual se encarnou o Filho de Deus.
7. Foi conveniente que a Lei Velha viesse antes da Nova, assim como convém que os fundamentos venham antes da casa. E como os judeus não se arrependem da culpa que têm porque trataram da morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, estão em erro e pensam ter a Lei de Moisés, a qual não têm, porque não seguem o que a Lei Velha significa da Nova.
8. Amável filho, tenhas somente um Deus em teu coração, porque aqueles que têm muitos deuses falsos em seus corações, amam algumas coisas mais que o Deus verdadeiro, que te criou e que te julgará à glória celestial ou aos infinitos tormentos.
9. Se o Deus que te ordeno adorar e servir tivesse falta e não fosse o suficiente para o que tu necessitas, seria coisa obrigatória que eu te ordenasse crer naquele Deus que poderia te dar cumprimento. Mas como o Deus da Glória é totalmente completo, cumpre e completa teu ser.
10. Filho, sabes por que existem muitos homens nestes tempos no qual estamos que fazem deuses de ídolos? Porque não conhecem o verdadeiro Deus que está em Glória. E sabes por que nós, que cremos no Deus da Glória, não vamos pregar e mostrar o Deus de todo o mundo? Porque temos pavor da morte e tememos morrer para mostrarmos o Deus que dá a vida perpétua em Sua Glória divina.
XIV. Não sejas perjuro1. Filho, o segundo mandamento é que o homem não tome o nome de Deus em vão, o qual nome de Nosso Senhor Deus tomam em vão aqueles que juram por Deus e por Suas obras, mentem e dizem coisas contrárias à verdade.
2. Saibas, filho, que eles amam mais o que juram mentindo que o Deus pelo qual juram, e como isso é uma grande falta, Deus fez o mandamento para que nenhum homem jure falsamente.
3. Filho, se a ti não é necessário jurar “se Deus me ajudar” ou “se Deus me der bem”, quanto mais é necessário que jures “se Deus não me ajudar” e “se Deus me fizer mal”.
4. Filho, lembra-te do primeiro mandamento quando desejares jurar, porque aquele que perjura estando ciente, falta a Deus quando mente.
5. Ao homem verdadeiro não cabe fazer sacramentos, nem ao homem mentiroso cabe fazer muitos juramentos.
6. Amável filho, a verdade está muito melhor na boca que em caixas de ouro e de prata unidas por falsos juramentos. A boca é dada ao homem para dizer a verdade e a vontade lhe é dada para odiar a falsidade.
7. Filho, sabes por que o homem mentiroso faz muitos juramentos? Porque não crê neles como juramentos.
8. Filho, não jures pelo teu corpo porque não o darias por todo o tesouro do rei; nem jures por tua alma, porque tu não sabes e nem podes imaginar a glória e a virtude que poderias perder.
9. Filho, não jures por teu pai nem por tua mãe, porque não podes dar tanto bem quanto recebeste. E por que juras por tua fé? Porque se mentes, gente não és.
10. Filho, se desejas jurar digas “é verdade” ou “é certo”, ou ainda “verdadeiramente”, pois por esses juramentos, se são verdadeiros, podes cumprir tudo quanto quiseres comprar, vender ou firmar; se és mentiroso, nenhum juramento te fará cumprir.
11. Se somente uma gota de sangue do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo vale mais que todas as criaturas que existem, imagina, filho, quão grande falta é jurar pelo corpo de Deus, por Sua boca, Seu fígado e pelo ventre de Deus.
XV. Veneração1. Venerar é fazer festa na qual se lembra de Deus, de orações e das obras que o homem fez na semana.
2. Filho, naquele tempo em que Deus criou o mundo em seis dias, Deus repousou no sétimo dia para significar que o homem deve repousar corporalmente no sétimo dia, e que corporalmente e espiritualmente deve fazer reverência e honra a Nosso Senhor Deus. Por isso, quando o Deus da Glória deu a Lei Velha a Moisés, ordenou que todo o povo de Israel repousasse no sábado, de tal maneira que nesse dia não trabalhassem nas coisas temporais e fizessem orações a Deus.
3. Quando o Filho de Deus teve prazer em ser encarnado e dar a Lei Nova ao povo dos cristãos, foi feita a mudança da festa do sábado para o domingo para significar que assim como Deus - Bendito seja Ele! - começou a criar o mundo no domingo, foi conveniente que a festa fosse feita no domingo. Naquele momento, como por recriação, o Filho de Deus quis recriar a linhagem humana.
4. Saibas, filho, que no início de fazer alguma obra, o homem tem a intenção de cumpri-la. Por isso, conforme a ordenação divina, foi conveniente que no dia em que o mundo foi principiado e recriado fosse feita uma festa na qual o homem agradecesse a Deus pelo princípio e a perfeição de Sua obra.
5. Filho, a festa existe para que vás à Igreja obedecer e honrar o padre que está no lugar de Deus, ouças as palavras que te contarão de Deus e confesses todos os teus pecados ao padre, oferecendo teu corpo e tua alma, e dês os bens deste mundo, os quais Deus lhe confiou.
6. Filho, o dia do festival é o dia de oração, de contrição e de chorar os pecados que se cometeu, e principalmente neste dia deve se relembrar as vaidades deste mundo, a glória do Paraíso e as penas infernais.
7. Filho, cresceram no mundo os golpes, as feridas e os erros, e estão cheios os caminhos pelos quais os homens irão sustentar infinitos trabalhos. Por isso, nas festas são feitos convites e uniões de pecado mais fortemente que nos outros dias. Filho, Deus reservou esse santo dia na semana para que o homem Lhe fizesse mais honramentos que nos outros dias. No entanto, nesse dia, filho, as pessoas cometem mais vaidades comendo, bebendo, falando, andando e outras coisas semelhantes a essas.
8. Amável filho, é mandamento na lei que todo servo ou todo boi faça festa um dia da semana para significar que assim como todo servo ou boi fazem festa, na festa deste mundo está significada a gloriosa festa que acontece no outro século na presença de Nosso Senhor Deus.
XVI. Honrarás teu pai e tua mãe1. Filho, a ti convém honrar teu pai e tua mãe, porque é um mandamento de Deus para significar que assim como tu és obrigado a honrar teu pai e tua mãe porque nasceu deles e porque eles te alimentaram, és obrigado a honrar a Deus, que te criou e te sustenta e do qual tudo quanto existe foi feito do princípio.
2. A honra convém com o amor e o temor, porque a desonra é feita pelo desamor e pelo menosprezo. Por isso, filho, tu não deves menosprezar teu pai e tua mãe nem desamá-los, amando as posses dos bens que possuem neste mundo. Por isso, Deus deseja que tu faças honramentos ao teu pai e à tua mãe.
3. Filho, tu podes entender que Deus deseja ser honrado, porque na honra de teu pai e de tua mãe recebe honramento e em sua desonra é desonrado e menosprezado pelas gentes.
4. Filho, se pelos trabalhos de teu pai e de tua mãe, tu tens riquezas e honramentos, e na tua honra teu pai e tua mãe têm contentamento, relembra, neste momento, como é uma coisa desejável que lhes faças honramentos.
5. Filho, se honrar os primeiros e os princípios fosse uma falta, seria coisa necessária não fazer honra a Deus. Logo, se tu fazes maldade e faltas ao teu pai e à tua mãe, saibas que fazes desonra ao Deus do céu.
6. Filho, a virtude do teu corpo se multiplica neste mundo tanto quanto a virtude dos corpos de teu pai e de tua mãe se debilitam e enfraquecem. Assim, se ajudar os fracos e os despossuídos é a honra dos fortes, filho, podes ter honramento ao honrar teu pai e tua mãe, os quais serão agradáveis a Nosso Senhor Deus.
XVII. Não cometerás homicídio1. O homicídio é destruir e matar os homens, os quais Deus deseja que vivam. Logo, filho, para que tua vontade não seja contra a vontade de Deus, Deus fez este mandamento para que tu não cometas homicídio.
2. Se Deus não deseja que tu mates outro, também não deseja que tu mates a ti mesmo. Se nem as bestas, nem as aves, que não têm razão, matam a si mesmas, mais inconveniente seria se tu, filho, que tens razão, matasses a ti mesmo.
3. Amável filho, um homem pode matar outro homem, mas o homem não pode reviver o homem que matou. Logo, se tu matasses um homem e Deus te pedisse que devolvesses o que tiraste, o que farias?
4. Filho, muitas vezes aconteceu que quem matou um homem matou sua alma no fogo perdurável, pois o homem que matou, o fez por ocasião da ira e da má vontade, pelas quais ira e má vontade, Deus mata a alma deste no fogo infernal.
5. Amável filho, se Deus ordena que não mates o corpo, te ordena ainda mais que não mates tua alma no pecado, pois a alma é muito melhor que o corpo.
6. A camisa e o manto envelhecem, mas o homicídio não envelhece no temor daquele que mata nem na ira dos parentes daquele que o homem matou.
7. Amável filho, não sejas homicida nem desejes matar nenhum homem, pois muitos homens pensam matar outro, que morre, e Deus mata muitos homens para que não matem outros.
8. Amável filho, como Deus se encarnou e morreu, e Ele faz e tem a vida, não desejes destruir nem matar, pois se o fazes, menosprezas a Deus e Suas obras.
9. O homem morre tão depressa quanto nasce, pois a morte se aproxima dele a cada dia que passa. Por isso, filho, não cabe que tu mates o homem, deixa a morte matar o homem e perdoa a morte pelo amor de Deus.
XVIII. Não faças fornicação1. Filho, a fornicação é a luxúria, que é a sujeira do corpo e do pensamento, pela qual sujeira, a castidade e a virgindade são eleitas.
2. Amável filho, sabes por que Deus ordena que não faças fornicação? Para que com obediência e com a purificação do corpo e do pensamento combatas todo dia com teu corpo o deleite da carne, que é engendrada de matéria tão suja que é coisa horrível ser nomeada.
3. Filho, imagina a pureza que existe na flor e na alma virtuosa, e cogita a grande sujeira que existe na obra da luxúria, a qual não gosto nem de nomear e nem de escrever porque eu não nomeio nem escrevo as mais feias palavras que existem.
4. Filho, Deus ordenou que não faças fornicação, pois a fornicação destrói o corpo que Deus criou, destrói as riquezas que Deus confiou ao homem e destrói o entendimento da alma, que é o espelho no qual Deus demonstra Suas virtudes e Suas obras.
5. A luxúria expulsa Deus, a coragem, a lealdade, a verdade do homem e o anjo que Deus deu ao homem como guardião, e o coloca naquela falsa coragem, mentira e junto ao demônio.
6. Pela luxúria vivem as fêmeas na ira de Deus, de seus maridos e de seus parentes, e pela luxúria suas crianças são menosprezadas entre as gentes.
7. Amável filho, a luxúria faz as gentes guerrearem, os homens matarem e ferirem as fêmeas, e destruírem e queimarem as vilas e os castelos, e faz os bastardos injuriosamente herdeiros.
8. Filho, não poderia e nem saberia dizer os males que vêm pela luxúria. E porque a luxúria faz tanto mal e é ocasião para tantas faltas, Nosso Senhor Deus ordena que o homem seja inimigo da luxúria e amante da castidade, pela qual castidade será chamado para a glória de Deus.
XIX. Não roubarás1. Deus fez um mandamento para que o homem não faça ladroagem, porque se um homem rouba o que outro homem possui e não é justo, não pode ser salvo, e convém ser julgado para ser atormentado pelos demônios tão duravelmente quanto Deus estará no céu.
2. Amável filho, não faças ladroagem, porque aquele que te criou não deseja a sentença da qual não podes escapar. E se desejas ser dono de alguma coisa, não a roubes, mas peça-a a Deus, que pode te dar, assim como deu àquele a quem tu desejas roubar.
3. Filho não sejas amante da vanglória, porque estes fazem ladroagem a Deus dos bens e das graças que receberam Dele, as quais atribuem a si mesmos.
4. Filho, se é má coisa roubar dinheiros, roupas ou outras coisas semelhantes a essas, as quais pode se restituir, então coisa muito pior é roubar o tempo, a reputação e as outras coisas semelhantes a essas, as quais não se pode satisfazer nem restituir.
5. Por roubos são feitas as forcas nas quais são pendurados os homens ladrões; e por fazer ladroagem arrancam do ladrão o nariz, as orelhas e o sovam pela vila; e por roubar, atormentam-se os homens por reterem as coisas roubadas.
6. Filho, ladroagem é roubar o que Deus deu, e a ladroagem faz o homem estar envergonhado diante das gentes e o faz menosprezar a grande liberdade e misericórdia de Nosso Senhor Deus.
7. Saibas filho, que Deus te ordena não fazeres ladroagem para que tenhas esperança Nele e que Lhe faças petições, e que dês a teu próximo para que Deus multiplique o que dá.
8. Filho, é melhor ser pobre e temeroso que um ladrão rico e orgulhoso. E melhor coisa é dizer não que roubar e dar.
9. Antes que tu sejas desobediente ou ladrão desagradável a Deus e às gentes, vai pedir pelas portas pelo amor de Nosso Senhor Deus.
XX. Não farás falso testemunho1. Saibas, filho, que testemunho é representar ao juiz para que se dê mérito ou pena, e por isso, filho, Deus ordena que o homem não faça falso testemunho, porque pelo falso testemunho têm pena aqueles que merecem bem-aventuranças e têm bem-aventuranças aqueles que merecem pena.
2. O maldizer e o falso testemunho convêm contra a verdade, e o louvor e o falso testemunho convêm contra a verdade e a justiça. Por isso, filho, guarda-te para que não sejas blasfemador e não louves nenhuma coisa que seja falso testemunho.
3. Deus deseja que tu não faças falso testemunho para que sejas testemunho da verdade de Deus, contra a qual existem muitos malvados blasfemadores e muitos falsos temerosos blasfemadores.
4. Amável filho, deseja morrer para dares o verdadeiro testemunho de Deus, que te criou e recriou. E se temes ser levado à morte, relembra como os apóstolos e os outros mártires foram honrados por Deus no céu e na terra, porque deram o verdadeiro testemunho de Seu louvor e de Seus honramentos.
5. Negar a verdade de teu Deus e calar Seu louvor nos lugares onde te escutam negá-Lo e menosprezá-Lo é dar falso testemunho de teu Deus, pois não seguiste a causa final pela qual Deus te criou, pelo contrário, significas falsamente que em Deus existe falta de nobreza.
6. Ah, filho! Tão rapidamente é dito que não se faça falso testemunho, mas tão grave coisa seria contar todos aqueles que dão falso testemunho de Deus.
7. O Filho de Deus veio aqui em baixo entre nós para dar o verdadeiro testemunho do Celestial Pai Glorioso. Logo, apesar de ninguém querer ter semelhança com Ele, não sejas servo da morte, pois ela faz o homem temeroso de confessar a verdade diante aqueles que dão falso testemunho de Nosso Senhor Deus.
XXI. Não invejarás a mulher de teu próximo1. A inveja é desejar com tristeza outros bens. Por isso, filho, Nosso Senhor Deus fez um mandamento para que o homem não tenha inveja da mulher do próximo, porque a tristeza no desejo da alma cega os olhos do entendimento.
2. Amável filho, todo homem é próximo ao outro na natureza. E como é um mandamento expresso que o homem ame a seu próximo tanto quanto a si mesmo, filho, o Deus da Glória fez um mandamento que nenhum homem cobice a mulher do próximo, e neste mandamento está significado outro mandamento, isto é, que tenhas amor a teu próximo e a ti mesmo.
3. Filho, invejar a mulher de teu próximo é menosprezar e desamar teu próximo, e é menosprezar tua mulher e os parentes de tua mulher. E como Nosso Senhor Deus deseja que o homem não tenha menosprezo daquela criatura que lhe é semelhante em natureza e deseja que o homem saiba que em sua mulher existe a mesma coisa que existe na mulher de seu próximo ao dar o deleite carnal, Deus ordenou que tu não tenhas inveja da mulher de teu próximo.
4. Amável filho, para que sejas obediente aos mandamentos de Deus e não sejas invejoso, relembra a sujeira que podes entender, e compreende quão grave coisa seria se o homem desejasse tua mulher e a desordenasse da ordem do matrimônio. Pensa, também, se por tão grande sujeira é coisa conveniente perderes o amor e a glória de Deus e teres o tormento no fogo perdurável.
5. Filho, se tu fosses mais nobre que tudo o que Deus te deu, tu não serias criado. Logo, como tu és criatura que foi criada do nada e retornarias ao nada se Deus levasse tua graça, filho, entende que Deus te fez mandamento que não sejas invejoso para significar que tu és criatura criada por Nosso Senhor Deus.
XXII. Não terás inveja dos bens de teu próximo1. Sabes, filho, por que Deus, que é completo de todos os bens, fez um mandamento para que não tenhas inveja dos bens de teu próximo? Para que o homem tenha esperança em Deus, que dá ao homem bens semelhantes àqueles que deu a seu próximo.
2. Filho, não invejes os bens de teu próximo, porque Deus os deu e quis que ele os tivesse. Pois se Deus quisesse, poderia ter te dado aqueles mesmos bens. Logo, se tu desejas ter o que Deus não desejou te dar, então fazes de teu desejo o contrário da vontade de Deus.
3. Filho, não tenhas inveja de outros bens, porque se tiveres, não saberás se existirá uma hora de tempo para possuí-los. E nem se todos os bens temporais deste mundo fossem teus poderiam dar o cumprimento da vontade de tua alma.
4. Filho, os bens deste mundo não são desejáveis por eles mesmos, pelo contrário, são para servir a Deus. Logo, se tu invejas os bens do teu próximo, o teu desejo existe para servir a ti mesmo contra a vontade de Deus.
5. Filho, não invejes os bens de teu próximo, porque ele é o dono, e nestes bens que tu vês existe falta, pois eles são corruptíveis e são possuídos com labor, trabalho e temor.
6. Filho, os demônios caíram do céu por inveja, pois invejaram a glória de Deus. Logo, como tu amas elevar-te na glória que os demônios foram expulsos, a inveja que tens é contrária à tua elevação.
7. Filho, prega a pobreza dos bens temporais que Nosso Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora Santa Maria e os apóstolos tiveram neste mundo e te admoesta para que não sejas invejoso dos bens deste mundo, pois se Nosso Senhor Deus não quis ter, muitos não poderiam ter e muitos não poderiam dar à Nossa Senhora que tanto ama, e aos apóstolos e a outros Seus que tanta pena suportaram neste mundo por Seu amor.
8. Quanto maiores forem tuas riquezas, filho, mais serás culpado caso não faças o bem que puderes, e serás obrigado a ouvir a cruel sentença de Deus.
9. Se com os bens que tu tens não fazes tanta bondade quanto podes, por que tens inveja dos bens que não tens e por que a inveja te faz amar mais o tesouro de teu próximo, que não é tão semelhante a ti quanto teu próximo?
10. Filho, considera as grandes faltas que fazem os homens invejosos, pois a inveja faz o homem ser avaro, falso, mentiroso, traidor e enganador, e a inveja faz os homens dizerem falsamente uma maldade e os faz se desesperar da misericórdia de Deus.

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