"Quase vinte anos depois da queda do muro, Berlim está novamente dividida. Em toda a cidade, os cartazes indicam um clima de acirrada campanha, embora a votação do próximo domingo seja apenas um referendo sobre o retorno ou não da aula obrigatória de religião nas escolas. A parte ocidental da cidade é a favor da iniciativa "Pro Reli", pelo retorno da aula de religião como disciplina obrigatória. No leste, que até 1989 ficava atrás do muro, os berlinenses são a favor do grupo "Pro Ética", pela manuntenção da aula de ética como disciplina obrigatória, decisão tomada pela prefeitura pouco depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 para evitar a separação das crianças muçulmanas das cristãs durante as aulas de religião.
A iniciativa "Pro Reli", que tem à frente o politico Christoph Lehmann, quer forçar a suspensão da decisão da prefeitura da cidade, formada por uma coalizão dos social democratas (SPD) com os ex-comunistas (do partido "Die Linke", A Esquerda), de por a religião em segundo plano, opcional, e no final da tarde, quando os alunos já estão famintos.
A disputa entre "Pro Reli" e "Pro Ética" não chamaria muito atenção se os envolvidos não lutassem com vigor, de uma forma ideológica, pelos seus objetivos. De acordo com o presidente da Conferência dos Bispos de Berlim, Robert Zollitsch, a ética no lugar da religião lembra a era do comunismo. Os cartazes da iniciativa "Pro Reli" dão a entender mesmo que a cidade corre o risco de ser dividida de novo: "Em Berlim, trata-se da liberdade -- Não diga que não teve a opção de escolha".
Mas cerca de 40% dos berlinenses não estão ligados a nenhuma religião, porque são alemães ateus da antiga República Democrática. Em Friedrichshain, no leste da cidade, cerca de 80% vão votar contra o retorno da aula de religião como disciplina obrigatória. Já em Steglitz-Zehlendorf, bairro tradicional do ocidente, a maioria é favorável ao retorno da aula de religião.
O prefeito Klaus Wowereit, do SPD, defende a permanência da ética nos curriculos escolares, lembrando que com a aula de religião obrigatória as classes seriam de novo separadas entre crianças cristãs e crianças muçulmanas. Sobretudo nos bairros onde vivem muitos turcos e seus descendentes, Kreuzberg e Neukölln, a minoria muçulmana é bem representada.
Por outro lado, os defensores do retorno da aula de religão lembram que a decisão seria importante não apenas para que as crianças cristãs tivessem a chance de aprender um pouco sobre a história e os dogmas da igreja. Também para as crianças muçulmanas, dizem os defensores da campanha "Pro Reli", a aula de religião seria importante porque seria uma forma de contato com a própria religião sem as idéias extremistas que desencadearam tantos atentados terroristas no mundo inteiro nos últimos anos.
O grupo "Pro Reli" precisa de no mínimo 613 mil (de 2.453.418 eleitores) votos de "sim" para forçar a prefeitura a mudar o curriculo escolar. Embora os berlinenses não sejam entusiasmados pela religião, com o alto investimento da campanha, de mais de 50 mil euros, a iniciativa tem chance de ganhar. Além disso, o "Pro Reli" contratou Günther Jauch, o apresentador mais popular da televisão alemã, que é católico, para atrair votos pro aula de religião.
Mas também a prefeitura não ficou muito atrás com publicidade. Apesar da crise econômica, Wowereit investiu 25 mil euros em publicidade sobre a aula de ética para crianças de todas as religiões."
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